Resenha- Laranja Mecânica
- Ana Beatriz
- 4 de jan. de 2016
- 3 min de leitura

Autor: Anthony Burgess
Editora: Aleph
Páginas: 352
Laranja Mecânica é fascinante, uma história verdadeiramente brilhante e muito perturbadora.
O livro conta a história de Alex, um jovem de 15 anos que faz parte de um grupo de adolescentes delinquentes que praticam crimes por diversão (os crimes são os mais diversos, desde furtos até assassinato e estupro). Numa noite, Alex e seus amigos decidem invadir a casa de uma senhora, porém ela chama a polícia e Alex é traído por seus colegas e é preso, condenado a 14 anos de prisão.
Nos primeiros anos preso, Alex mostra um comportamento muito agressivo, então o governo decide submetê-lo a uma técnica nova para reintegrar criminosos na sociedade. A Técnica Ludovico (como é chamada), é uma espécie de tratamento de choque criado pelo governo para diminuir a superlotação dos presídios e o número de criminosos nas ruas. O tratamento consiste em expor o indivíduo a uma série diária de filmes extretamente violentos e aplicar nele uma substância que causa um terrível mal estar, fazendo com que o indivíduo associe essa terrível sensação a toda e qualquer forma de violência.
Primeiramente, é importante dizer que essa obra nos faz imergir por completo no universo criado por Burgess, pois ele pensou em cada detalhe para criar a obra, desde a linguagem até os costumes dessa sociedade futurista que nos é apresentada.
Começando pela linguagem: os adolescentes da história criaram uma linguagem própria chamada nadsat, que mistura inglês e russo e é repleta de gírias e expressões singulares. No início da leitura, o leitor pode sentir certo estranhamento, mas nada que atrapalhe o entendimento da história. A escolha de utilizar essa linguagem tão diferente foi proposital, o autor queria nos causar essa sensação de incômodo durante a leitura, o que faz todo o sentido pela temática do livro.

O livro é narrado em primeira pessoa, o que é interessante, pois assim presenciamos como é ser um adolescente delinquente em uma sociedade futurista onde a vilência atinge proporções inimagináveis e o governo é totalitário.
Laranja Mecânica, por trás da história em si, é repleto de críticas a sociedade e nos fazem pensar e perceber que o cenário do livro, mesmo se passando no futuro, é bastante atual.
A primeira crítica feita pelo autor refere-se ao sistema carcerário e quão eficiente ele é de fato na reforma do criminoso. Ou seja, a melhor forma de lidar com um criminoso é realmente prendê-lo em um lugar que o faz voltar à sociedade ainda mais violento? Os criminosos saem da prisão realmente tranformados?
Mas, em contrapartida, somos expostos no livro ao outro lado da moeda: um tratamento que reforma realmente o crimioso e o reinsere na sociedade transformado. Porém, essa outra faceta também é uma crítica, pois Alex é exposto a uma verdadeira lavagem cerebral (o que, assim como os crimes, também é algo muito desumano). Além disso, o autor insere aí uma reflexão sobre livre arbítrio, pois através do tratamento, o criminoso é transformado, mas não por livre e espontânea vontade, então até que ponto isso é eficaz? O autor nos mostra que não natural sermos privados de fazer nossas próprias escolhas.

O livro proporciona uma leitura de fácil compreensão e é muito bem escrito. O autor escreveu uma história perturbadora e pensou em cada pequena coisa que pudesse "perturbar" o leitor, para que a leitura fosse ainda mais intensa. Desde o título (O próprio nome Laranja Mecânica é estranho demais e o mais incrível é o que ele significa: seria a junção forçada de um organismo (com vida, que amadurece e é doce) com um mecanismo (frio e morto). Esta alegoria chamou a atenção do autor quando este ouviu um homem citando-a num pub londrino em meados da Segunda Guerra Mundial. É uma gíria cockney que ele guardou consigo e encontrou o uso ideal anos mais tarde,"era o único nome possível", Burgess chegou a dizer num ensaio em 1973.), as gírias usadas pelos jovens (que nos proporcionam estranhamento) até as próprias descrições das cenas de violência e do tratamento. Além, é claro, da crítica que permeia a história.

Para finalizar, vou falar sobre a minha edição do livro. Tenho a edição comemorativa de 50 anos da publicação do livro lançada pela editora Aleph, que, por sinal, é belissíma. Além de linda, a edição é super completa. Com capa dura, jacket, ilustrações e material extra, é um ótimo volume para quem gosta da história ou para aqueles que gostariam de saber mais sobre a obra. A edição inclui:
Ilustrações exclusivas de Angeli, Dave McKean e Oscar Grillo.
Trechos do livro restaurados pelo editor inglês.
Notas culturais do editor.
Artigos e ensaios escritos pelo autor, inéditos em língua portuguesa.
Uma entrevista inédita com Anthony Burgess.
Reprodução de seis páginas do manuscrito original, com anotações e ilustrações do autor.
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